Portanto, as mudanças climáticas vão afetar ainda mais a população pobre e vulnerável da região, acentuando um ciclo de pobreza e exclusão na Baixada Fluminense.
“Não tem mais cama, não tem guarda-roupa. Não adianta a gente ir para a loja comprar porque no outro ano vai perder tudo. Não adianta comprar móvel caro e estragar. É jogar dinheiro no lixo”, relata Maelson de Andrade, que mora às margens do rio Iguaçu, em Duque de Caxias.
“Tanto o rio Iguaçu quanto o Sarapuí têm uma configuração muito propícia a inundações. Quando chove, o mar funciona como uma parede segurando o escoamento e impede que a cheia desça”,
A progressiva elevação do nível do mar também deve agravar a situação, e nos próximos anos as mudanças climáticas devem aumentar em até 30% o volume das chuvas.
As chuvas que hoje não provocam inundações vão passar a provocar, porque o nível do mar formará uma barreira maior. E chuvas que já provocam inundações provocarão ainda piores. Completa Matheus.
Segundo as pesquisas de Sousa, quanto maior a elevação do nível do mar mais tempo as inundações ao longo dos rios da baixada podem durar. Afinal, o maior volume da água do mar vai dificultar o escoamento desses rios para a Baía de Guanabara.
Nova Iguaçu registrou na última sexta-feira (1º) 222 mm de chuvas —175% do volume esperado para abril. Em Belford Roxo, o acumulado foi de 228 mm —185% do previsto para este mês.
Às margens do rio Botas, o volume extremo de chuvas fez com que a água atingisse locais que nunca tinham sido atingidos antes —mostrando na prática o que dizem os especialistas.
Foi o que aconteceu na casa de Luciana de Oliveira, 41, que vende lanches em um trailer na região.
Na porta de sua casa, no São Bernardo, havia colchões, sofá, poltronas e guarda-roupas. Tudo destruído. A família viveu momentos de terror ao tentar escapar da inundação na noite de sexta.
“Tivemos que passar o neném pelo muro. Na rua, a água estava indo até o pescoço. Nunca vi nada assim aqui”, diz ela.
Luciana, a filha e as crianças que vivem na casa permaneceram durante 3 dias no telhado, esperando a água baixar.
“Ficamos três dias na laje, descemos hoje [segunda (4)]. Passamos a noite toda molhadas, com frio e fome. A vizinha que nos deixou no terraço tinha uns três lençóis secos. Cobrimos as crianças, que estavam com frio”, relata.
Fonte: notícias.uol