O Vale do Javari é a terra indígena que abriga a maior quantidade de povos isolados do mundo. Nos últimos anos, local tem sofrido escalada de ataques e cerco de invasores ligados à pesca e caça ilegal, garimpo e extração de madeira. Esposa do repórter inglês divulga carta e PF diz que prendeu dois suspeitos.
O desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips desde a manhã do domingo, 5, no Vale do Javari (AM), revelou uma escalada de ataques e cerco de invasores que ameaçam a terra indígena com mais povos isolados do mundo.
Invasores ligados a pesca e caça ilegal, garimpo, extração de madeira ou mesmo traficantes fizeram do local uma espécie de barril de pólvora para quem lutava para defender a área, segundo Francisco Loebens, integrante no Amazonas da equipe de apoio a povos livres do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
As piores ações foram registradas em 2019, quando uma base da Funai no Vale foi atacada a tiros por caçadores clandestinos. Foi o 4º ataque em pouco mais de um ano.
A Univaja informou que inicialmente eles foram visitar uma equipe de vigilância indígena próximo à localidade chamada Lago do Jaburu, nas imediações da base da Funai no Rio Ituí, para que o jornalista conversasse com indígenas no local.
As entrevistas, segundo a Univaja, foram feitas na sexta-feira (3). No retorno, ainda de acordo com a entidade, a dupla foi à comunidade São Rafael, onde Bruno tinha reunião agendada com o líder comunitário conhecido como “Churrasco” para consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na região, afetada pela ação de invasores. Bruno se reuniu com a esposa do líder comunitário, já que ele não estava no local.
De lá, partiram em uma embarcação para Atalaia do Norte. Contudo, a dupla desapareceu antes de chegar ao destino combinado.
A Polícia Federal prendeu dois suspeitos de estarem envolvidos no sumiço do indigenista Bruno e do jornalista inglês e colaborador do jornal The Guardian Dom Phillips. Segundo informações do jornal O Globo, a prisão de ambos teria ocorrido no início da noite desta segunda-feira (6). Eles foram encaminhados para a cidade de Atalaia do Norte (AM) para depor à Polícia Civil.
Ameaças a Bruno e apelo da mulher de Philips
Bruno vinha sendo alvo de ameaças de garimpeiros, madeireiros e pescadores. Em carta reproduzida pelo jornal O Globo, pescadores prometeram “acertar contas” com ele.
A mulher do jornalista Dom Phillips, Alessandra Sampaio, fez um apelo para que as autoridades brasileiras tomem “ações urgentes” a fim de localizar o marido e também o servidor da Funai Bruno.
“Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui. Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil. Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas”, disse Alessandra.
Fonte: pragmatismo político