Caso você tenha na sua mente uma Amazônia sem humanos, intocada e apenas visitada pelas tribos antes da chegada dos colonizadores europeus, pense novamente — diversos estudos recentes mostram que a selva era altamente frequentada e modificada pelas populações indígenas, chegando a ter 10 milhões de habitantes e comércio entre povos.
Corroborando as descobertas populacionais, foram descobertas pirâmides de 1.500 anos atrás na Amazônia boliviana, feitas de terra e escondidas pela vegetação. Conflitos e guerras também fizeram parte da história da região, bem como sistemas de troca e miscigenação, mostrando um registro temporal muito mais complexo e cheio de eventos do que se pensava.
Antigas e novas evidências
Um dos cientistas que querem trazer a história ancestral dos indígenas amazônicos — e que insiste que ela merece ser conhecida — é o arqueólogo da USP Eduardo Goes Neves, que trabalha na região há 30 anos e escreveu o livro Sob os tempos do equinócio — Oito mil anos de história da Amazônia Central, onde fala sobre os incríveis novos e antigos conhecimentos pouco divulgados sobre a selva pré-colonial.
Por muito tempo, se acreditou que a floresta limitava os esforços dos moradores locais, o que não é verdade. Entre os anos 1980 e 1990, dois antropólogos americanos, trabalhando com indígenas contemporâneos, notaram como eles modificam a natureza e buscaram entender quais aspectos da selva poderiam ter sido alterados da mesma maneira em tempos ancestrais.
Modificando a floresta
Com isso, foram encontradas “terras pretas”, uma espécie de solo fértil formado através de compostagem (depósito de matéria orgânica) e evidências de domesticação de mandioca, abacaxi, castanha, cacau e amendoim, todos processos feitos artificialmente pelas tribos. As plantas citadas, por exemplo, ficaram hiper dominantes, ou seja, muito mais frequentes que suas contrapartes: de 16 mil espécies de árvores amazônicas conhecidas, apenas 227, ou 1,4%, já representam metade de todas as presentes na mata.