A cerca de 15 dias do fim do mandato de deputada federal e de assumir oficialmente a presidência da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), a advogada Joenia Wapichana (Rede-RR) avalia que os yanomanis passam por um “catástrofe humanitária” em consequência de fatores como a expansão do garimpo ilegal e da degradação ambiental.
De acordo com Joenia, que falou à Folha antes da declaração de emergência de saúde pública no território indígena, a retomada das demarcações e a segurança de áreas indígenas na Amazônia dependem de força-tarefa entre ministérios de Lula e de recursos financeiros além do previsto no orçamento da fundação em 2023.
“Precisaremos de uma força-tarefa entre ministérios para promover demarcação e desintrusão de invasores dos territórios, prioridades para os povos”, afirma.
Assim, a deputada foi recebida na sede da autarquia por servidores, no dia 2 de janeiro, na retomada simbólica do prédio pelos indígenas e indigenistas. Na ocasião, foi anunciada a troca do nome do órgão, antes chamado de Fundação Nacional do Índio —termo hoje visto por lideranças como preconceituoso e estigmatizado.
Funcionários que denunciaram perseguição na gestão passada, por cumprirem suas obrigações, voltaram a ser ouvidos e a sede recebeu lideranças indígenas de diferentes regiões do país nos últimos dias.
A saída dos bolsonaristas não é o único marco da nova gestão. Nunca na história, a Funai teve um indígena na presidência e a indicação de que os próprios indígenas ocuparão postos chaves nas estruturas regionais.
O desafio das demarcações é prioridade e urgente, segundo a deputada, mas não é o único. Joenia aponta o processo de desintrusão e manutenção da segurança dessas populações como o fator a envolver várias frentes e vontade política do governo.
Terras indígenas demarcadas também sofrem violências e invasões, que resultam em mortes, como é o caso dos yanomamis, em Roraima e Amazonas. A estimativa de indigenistas é que haja cerca de 20 mil invasores no território.
Fonte: Folha de SP