Quase sempre os adultos demonstram pela voz tensão e nervosismo. Mas é preciso manter a calma, dizem os especialistas do outro lado da linha, acostumados a orientarem a população em casos de intoxicação. “E procurar um serviço médico imediatamente para que a peça seja removida do organismo da criança”.
Outra recomendação que também pode surgir na conversa, porém, é menos óbvia e começa com uma pergunta: “Você tem mel em casa?”.
Se a resposta for sim e a criança que engoliu o dispositivo tiver 1 ano de idade ou mais, é possível que os pais sejam orientados a dar pequenas quantidades do doce alimento das abelhas enquanto levam o filho para o hospital. Isso porque:
- Considerada tóxica para o ser humano, a bateria de lítio, também conhecida como “bateria redonda” ou “pilha-botão”, pode causar queimaduras graves no esôfago em menos de duas horas após a ingestão, além de asfixia e complicações graves, com risco de morte;
- O mel não impede o desenvolvimento dessas lesões, mas pode retardar o seu avanço e, consequentemente, diminuir o risco de morte até que a criança chegue ao serviço médico.
- Quando há disponibilidade do mel, para as crianças maiores de 1 ano, podemos sugerir o uso como medida paliativa no trajeto até o hospital. Mas isso não deve ser motivo para retardar o atendimento médico, com os pais saindo de casa para comprar mel, por exemplo, pois o mais importante é que a bateria seja removida pela endoscopia.
Por que o mel?
As orientações adotadas pelo centro são baseadas nas diretrizes e literatura internacional.
O papel protetor do mel nesses casos foi indicado por um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Filadélfia, e que se tornou referência para que centros de intoxicação mundo afora recomendassem o uso do doce nessas situações, incluindo o National Capital Poison Center, nos EUA. A pesquisa foi publicada em 2018 no periódico Laryngoscope.
Entenda o estudo
O intervalo entre a ingestão e a remoção da bateria do organismo é um momento crítico para agir.
Por isso, os cientistas testaram o efeito protetor de uma variedade de líquidos comuns encontrados em casa, incluindo suco de laranja, isotônicos e mel. Ao final dos experimentos, que foram feitos no esôfago de suínos, o mel demonstrou em grau significativo um dos efeitos mais protetores e, diz o estudo: “tem o potencial de reduzir a gravidade da lesão e melhorar os resultados do paciente”.
Carlos Augusto Mello da Silva, presidente do Departamento Científico de Toxicologia e Saúde Ambiental da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), que tem mais de 40 anos de experiência na área e não participou do estudo, explica que as baterias de lítio contém hidróxidos, substâncias químicas que são alcalinas, ou seja, têm um pH muito alto —como a soda cáustica.
“O que acontece é que o mel é espesso o suficiente para revestir a bateria e retardar a geração de hidróxido onde a bateria se alojou no corpo, atrasando o aparecimento das queimaduras”, diz Silva.
Quantos ml e em quais casos pode dar mel para a criança que engoliu bateria?
A dose preconizada para o uso do mel como medida preventiva de lesões esofágicas é de 10 ml (cerca de 2 colheres de chá) de mel, por via oral, a cada 10 minutos, até completar 6 doses, entre o tempo decorrido da ingestão até chegar ao hospital.
Fonte: Viva Bem