A estatal brasileira Petrobras começou a exploração de petróleo e gás em uma das partes mais isoladas da Amazônia, pondo em risco várias tribos indígenas.
Fontes locais teriam informado que a Petrobras havia instalado 15 balsas com geradores de alta capacidade, dutos e máquinas de mineração no rio Tapauá no estado do Amazonas.
Em meados de março a Funai (Fundação Nacional do Índio) informou ao site Amazônia Real que teria recomendado a suspensão das atividades de navegação das balsas na bacia daquele rio, região que fica no entorno das terras indígenas dos Suruwaha, Banawa, Deni e dos índios Paumari. A fundação disse que também solicitou, em caráter de urgência, reunião com representantes da Petrobras para evitar conflitos no local.
Embora a Constituição do Brasil estabeleça que os povos indígenas devam ser consultados sobre todos os projetos que afetam suas terras, a Petrobras deixou de consultar os povos indígenas da região, e a Funai não fora informada sobre a exploração, a despeito do fato de algumas tribos da área serem muito isoladas.
Quando perguntada sobre a recente exploração da Petrobras na bacia do rio Tapauá, a ANP, Agência Nacional do Petróleo, afirmou que “nenhuma exploração de petróleo e gás fora anunciada ou autorizada por esta agência naquela região.”
A deputada federal Janete Capiberibe anunciou no início do mês, que faria uma audiência pública para discutir a atividade da Petrobras na região. Segundo a assessoria da deputada, a audiência ainda não teria data marcada mas informou que o objetivo seria procurar esclarecer as dúvidas sobre a subida das balsas pelo rio, se as comunidades foram ouvidas ou não, como se daria a exploração em áreas tão próximas às terras indígenas, entre outros assuntos.
E como segue-se ao impasse, a organização Survival International escreveu para a Petrobras instando-a a suspender imediatamente o seu trabalho na área. Na semana passada o seu diretor, Stephen Corry, disse: ‘O Brasil está pronto e disposto a sacrificar vidas indígenas inocentes em sua avidez por lucro. Seu crescimento econômico está chegando ao imenso custo humano: a vida e os meios de subsistência dos povos indígenas do país. Não se engane – quando as terras de índios isolados são invadidas, doença, morte e destruição, inevitavelmente, seguirão. Este é o lado negro do Brasil“.
Nos anos 1970 e 1980, a Petrobras explorou petróleo no Vale do Javari, onde vive a maior concentração de tribos isoladas do mundo. Vários índios, bem como empregados da FUNAI e da Petrobras, morreram em conflitos desencadeados pelas atividades da exploração.
No ano passado, os povos indígenas do Vale do Javari reafirmaram a sua oposição a qualquer exploração de petróleo perto de suas terras. Em uma carta, advertiram que não queriam uma repetição da tragédia que sofreram quando a Petrobras ‘destruiu nossas casas e terras, acabou com nossos lagos e córregos poluindo os mananciais o que causou a morte de vários índios’. “Eles” trouxeram doenças para as nossas comunidades e malária para a região, e trouxeram um acúmulo de equipamentos para o nosso território, prejudicando nossas fauna e flora”.
Notas:
– Na preparação para a Copa do Mundo, a Survival International está destacando “O lado sombrio do Brasil“. Quinhentos anos depois da colonização, os índios brasileiros ainda estão sendo mortos por suas terras e recursos. Agora, o governo e os latifundiários planejam explorar territórios indígenas para concluírem seus massivos projetos industriais.
– Baixe a carta de Sobrevivência para a Petrobras (PDF, 137 kB)
– Faça o download da carta dos Índios do Vale do Javari rejeitando toda a exploração de petróleo em ou perto de suas terras (PDF, 3,9 MB – em português)
– Os Suruwaha, cujo território fica perto do local da exploração, estiveram sob os ataques de missionários fundamentalistas durante anos. Os missionários afirmam, falsamente, que estes índios matam regularmente seus do recém-nascidos. Em 2012, a tribo tornou-se alvo de um relatório Canal 7 da TV australiana que chamou os Suruwaha como um “culto suicídio” da “Idade da Pedra“, e os piores violadores dos direitos humanos no mundo”. Survival reclamou com ACMA, Agência Reguladora da Austrália, que culpou o canal por quebra na cláusula sobre o racismo.
Fonte: Survival International
Fonte fotos: O lado sombrio do Brasil: A gigante petrolífera Petrobras adentra a Amazônia profunda