Conferir uma imagem improdutiva e negativa às favelas já é coisa do passado há muito tempo. Iniciativas sociais potencializadas pelo interesse e engajamento dos próprios moradores estão ocasionando uma verdadeira transformação ambiental nas periferias.
Modificar o ambiente em que vivemos não é tarefa fácil. Após um planejamento tático, é essencial pensar em investimento financeiro e apoio coletivo para fazer tudo funcionar. Não ter acesso a todas as exigências anteriores, não impediu que Maria de Lourdes Andrade, a Lia Esperança, mobilizasse os moradores da Favela de Vila Nova Esperança, na zona leste de São Paulo, a fim de criar um espaço ecologicamente correto e agradável para todos.
“Em 2003, quando cheguei aqui, não tinha nada. Hoje temos tomilho, manjericão, cúrcuma, três tipos de menta, lavanda e logo teremos morangos”,
comenta orgulhosa a líder comunitária.
A comunidade de Vila Nova Esperança fica em um morro rodeado pela Mata-Atlântica, o que serviu de estímulo para a integração dos moradores do local, com práticas ambientais de extrema importância. Ainda assim, de acordo com o relato de Lia, nada neste processo foi fácil,
“Em 2006, descobri que existia um processo para expulsar as famílias do local, acusando-as de degradar o lugar. Cinco anos depois, a comunidade resistiu a mais de 30 policiais armados que chegaram para expulsar todo mundo usando a força e gás de pimenta. O pessoal da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) me ofereceu dinheiro para sair daqui”, lembra.
O desejo de ficar e educar ambientalmente as pessoas que viviam ali foi mais forte que tudo isso, e hoje o local é referência ecológica nacional, tendo recebido inclusive prêmios pelas iniciativas implantadas e, tendo seu modelo replicado em diversas outras favelas de São Paulo.
As mudanças sociais não param no quesito ambiental:
“Temos também um circo-teatro, uma biblioteca para trazer cultura aos moradores, uma cozinha comunitária, um lago no qual as crianças podem mergulhar. E essa horta que não para de crescer”, comenta Lia.
Tendo recebido o auxílio dos moradores, ONGs, universidades e associações o projeto expandiu, atualmente a horta de Vila Nova Esperança possui mais de 6 mil metros quadrados, chegando a produzir uma tonelada de legumes, frutas e hortaliças por mês.
Uma verdadeira inspiração não só para favelas e comunidades, mas para todo o mundo.
Fonte: terra