As crianças sabem muito mais do que a gente quer acreditar. Além de serem espertas e possuírem acesso à Tv, smartphones e tablet, elas também percebem as preocupações, medos e tensões dos pais − mesmo que não expressem seus sentimentos.
“As crianças querem ser protegidas”, diz o psicólogo Felix Peter, que trabalha em escolas com crianças e jovens e é o porta-voz da iniciativa Psicólogos para o Futuro. Ignorar as crises e deixar os medos, preocupações ou perguntas das crianças sem resposta não é, portanto, uma boa opção. As crianças devem ter a sensação de que os adultos farão o seu melhor para garantir que tudo ficará bem. Isso começa com uma conversa com nossos filhos. Mas como fazer isso corretamente?
Leve os sentimentos das crianças a sério
Katharina van Bronswijk, psicóloga e psicoterapeuta, porta-voz do Psicólogos para o Futuro junto com Felix Peter, diz que as crianças, especialmente quando são menores e ainda não conseguem expressar seus sentimentos em palavras, tendem a ter sintomas psicossomáticos, como dores de estômago ou de cabeça.
Por isso, o que é coisa de criança pra você é muito sério para ela.
Uma criança que chora precisa, primeiramente, de conforto. Então, perguntas como “o que passa por sua cabeça agora?” ou “o que você vivenciou hoje?” podem ajudar os pequenos a expressar seus sentimentos em palavras.
“A maneira como falamos com as crianças sobre crises também depende do desenvolvimento cognitivo e emocional da criança”, diz Van Bronswijk. “Assim que uma criança faz perguntas sobre acontecimentos mundiais, elas devem ser respondidas.”
“Diz-se com frequência que é preciso tirar o medo das crianças. Nós preferimos dizer que é preciso falar sobre os medos“, diz Felix Peter. Uma frase como “‘Você não precisa ter medo’ seria o mesmo que proibir um sentimento”, diz o psicólogo. “Eu posso te entender, isso também me assusta“, é uma reação muito melhor, que faz a criança se sentir levada a sério, acrescenta Katharina van Bronswijk.
Seja sincero e fale a verdade
As crianças podem sentir que os pais estão com medo ou preocupados. Mas, como adultos, somos responsáveis por controlar nossos sentimentos. As crianças nunca devem ter a impressão de que são responsáveis por fazer os pais se sentirem melhor, dizem os dois psicólogos.
Por essa razão, os pais devem estar bem informados sobre os problemas que acontecem no mundo, seja a crise climática, a pandemia ou a guerra. Se não souber sobre o assunto, seja honesto e faça uma pesquisa antes antes de responder à pergunta.
Utilize uma linguagem que a criança entenda
As perguntas da criança definem o nível da conversa. Os adultos devem ser guiados pelas perguntas da criança e acompanhá-las. Mas não exagere na palestra.
As crianças entendem que o tempo para uma sessão de perguntas e respostas detalhadas é inconveniente quando seus pais estão a caminho do trabalho. É melhor adiar do que não responder.
Para os adultos inseguros sobre como explicar uma guerra às crianças, os psicólogos recomendam notícias preparadas de forma lúdica. “Os pais nunca devem mostrar aos seus filhos vídeos de guerra”, adverte Van Bronswijk. “Isso já é difícil de suportar para os adultos”.
Sirva de exemplo
Há tantas crises no mundo que nós também chegamos a ficar desnorteados e confusos. Falar sobre as emoções que nos afligem pode ser de grande ajuda. Elas podem ser usadas como motivação para se juntar a um grupo político, para coletar doações ou para ir a manifestações.
Muito disso pode ser feito pelos pais junto com os filhos, fortalecendo a autoconfiança da criança, ou seja, a sensação de que ela pode dominar situações difíceis por conta própria, afirma Van Bronswijk.
Fonte: g1