Nos moldes de cooperativa, alguns entregadores que hoje trabalham para aplicativos de entrega, como o Ifood e o UberEats, se uniram para tentar mudar e melhorar o salário e suas condições de trabalho sob uma nova forma de prestação de serviço organizado, porém, independente de grandes empresas ou de um único patrão.
Esse final de semana, dia 25, ocorreu a segunda parada chamada de #brequedosapps, que já virou um movimento histórico dessa classe de trabalhadores que só aumenta por causa da recessão e, que não sendo representada por sindicatos, encontrou na união dos próprios entregadores, o único meio para atacar o monopólio e lutar por melhores condições de trabalho.
Já falamos aqui de medidas que podem ser adotadas pela sociedade para apoiar esses trabalhadores.
Segundo uma reportagem da BBC Brasil, os entregadores Eduarda Alberto e Alvaro Pereira, foram um dos responsáveis por levantar o debate sobre a necessidade dos trabalhadores se unirem, principalmente porque desacreditam que seja possível lutar apenas por melhores condições de trabalho, enquanto uma única empresa fica com a maior parte do lucro, fruto do trabalho de uma imensa maioria.
Ainda segundo a reportagem, Eduardo e Alvaro buscaram um grupo de entregadores que já tinham uma certa associação de forma organizada, os denominados “entregadores antifascistas”, movimento que surgiu contra as manifestações autoritárias reivindicando o retorno da ditadura e fechamento do STF e Congresso.
O grupo logo entendeu que a ideia era boa, principalmente porque sendo organizados, ficam mais fortes e se a organização é feita dentro de uma estrutura legal que permite que eles existam juridicamente, como é o caso de uma cooperativa, pode ser uma excelente alternativa de união de trabalhadores onde todos são donos e gestores do negócio.
Caminho a percorrer
No entanto, apenas força de vontade e união não são suficientes. É preciso dinheiro, muito dinheiro.
Para existir juridicamente, a criação de uma cooperativa é simples, basta organização, regimento, estatuto social, gestão, registro nos órgãos oficiais e um capital mínimo.
Agora, para entrar no mercado de entregas e conseguir concorrer com os monopólios dos aplicativos já existentes, e não serem literalmente engolidos por ele, aí a coisa muda de figura e chega a proporções estratosféricas de falta de paridade.
E contra isso é necessário dinheiro:
- Primeiro para criação e fomento de um aplicativo nos mesmos moldes utilizados pelas empresas monopolistas como Ifood e Ubereats. Segundo reportagem da BBC, para o desenvolvimento de um aplicativo barato e enxuto, o custo pode chegar a R$ 500 mil.
- Além disso, a cooperativa depende de uma estrutura de apoio de profissionais, como suporte de tecnologia, jurídico, administrativo, gestores, financistas, programadores e por aí vai.
O conceito não é novo e partiu da análise de experiência de outros países, como Espanha e Canadá que já têm alguns modelos, porém pequenos, com poucos associados.
A ideia é que os trabalhadores se apropriem da lógica de plataformas já existente, usando os algoritmos a seu favor.
Segundo Rafael Grohmann, pesquisador em trabalho digital, professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e apoiador do movimento:
“A tecnologia não é neutra. As plataformas, do modo como são construídas, têm uma gestão algorítmica que acaba beneficiando as empresas”.
Experiências anteriores
Os trabalhadores brasileiros estão tentando trazer os aplicativos Mensakas e CoopCycle usados em outros países, e aproveitar a tecnologia usada por eles.
Uma outra inspiração vem de uma federação, com sede na França, que reúne 30 cooperativas de entrega por aplicativo, sendo 28 na Europa e 2 no Canadá, as quais compartilham serviços, como uso de um software e aplicativo comuns, com objetivo de baratear custos.
Existem modelos mas é preciso derrubar alguns obstáculos relativos a questões de pagamentos, custos, uso de motocicletas, etc, para que a união dos trabalhadores nesse mercado seja forte o suficiente para concorrer com os grandes.
Enquanto isso
Enquanto a cooperativa não acontece, Eduarda diz que já montou um coletivo de entregas na cidade do Rio de Janeiro, chamado Despatronados e desde quando o site foi colocado no ar, no dia 21 de julho, 36 pessoas já haviam se inscrito e a rede já contava com 190 clientes cadastrados, que podem ser acionados por WhatsApp.
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